9 de abril de 2012

Mike Wallace, obituário



Mike Wallace está morto. E, grosso modo, os jornais apenas destacaram de forma laudatória o fato de Wallace ter sido um dos jornalistas mais prestigiados de sua geração (com direito a 21 prêmios Emmy), além de apresentador do grande “60 Minutes”, um modelo exemplar de jornalismo investigativo no século XX.

Se você, leitor, por acaso, não ouviu falar do “60 Minutes”, isso se deve ao fato de que o jornalismo de TV hoje em dia está por demais condenado ao debate ideológico entre democratas e republicanos, como sabe quem acompanha um pouco do embate entre MSNBC e FOX News, para citar um exemplo. Nesse cenário, pundits como Bill Maher, com seu humor caustico, e Bill O`Reilly, com sua argúcia argumentativa, servem bem ao propósito de suas audiências – que não é necessariamente de se informar, mas sim de encontrar eco em seus pontos de vista extremados. Adiante.

A geração de Mike Wallace fazia outra linhagem de jornalismo. Não havia, ali, tanta necessidade de opinião; a retórica não era agressiva; o exemplo máximo de embate político era em torno de questões de fundo; no imaginário da audiência, havia a percepção de que o jornalismo buscava de forma incontestável a verdade. Entre outros programas (poderíamos citar, aqui, O "Meet the Press", com o também já falecido Tim Russert), essa credibilidade era representada por uma atração como o “60 Minutes”. Atualmente, essa percepção está abalada.

Curiosamente, um dos petardos contra a credibilidade desse jornalismo old school veio de dentro. Quem assistiu ao filme “The Insider” entende que as relações perigosas entre público e privado alteraram profundamente a crença de que existia, de fato, uma separação entre “Estado e Igreja”, e o discurso do próprio Wallace, representado nas telas por Christopher Plummer, é singular nesse sentido. Lowell Bergman ficou envaidecido pela versão que Al Pacino lhe deu no cinema, mas o restante da equipe, Mike Wallace incluído, não gostou tanto assim da maneira como o programa foi retratado pelas lentes de Michael Mann, o diretor do filme (e este é assunto para outro texto, sobre o filme “O informante”, que deverei escrever em breve).

O jornalismo do século XXI, principalmente o jornalismo de TV, sofre com baixa adesão de um público, que, mais cínico e supostamente mais informado, entende que as corporações interferem na maneira como as notícias são concebidas. Corrobora para essa tese o fato de que, boa parte dos âncoras aqui e alhures, tão somente atuam como leitores de teleprompter, colocando na mesma balança informação e entretenimento – o mesmo tom grave concedido às tragédias das enchentes no Brasil é utilizado para tratar de uma final de um torneio esportivo. Qual é a diferença? Ora, eis o ponto: para a televisão, não existe essa diferença. É o verdadeiro balcão de secos e molhados.

Agora, a onda é a da falsa polêmica, da controvérsia vazia, do humor com pretensão politicamente incorreto, mas, no limite, falta conteúdo e coragem. Achincalhar e jogar para a torcida parecem a tônica desse humor a favor travestido de jornalismo de atrações como “CQC” ou da indignação dos bons sentimentos de “A Liga”. Em síntese, para pegar leve, esse é um híbrido de jornalismo e reality show, com humor, com lágrimas, mas sem o rigor e a seriedade necessárias que a tradição de "60 Minutes", com todos os seus problemas, deixou como legado.

Mike Wallace morreu. E no dia de sua morte se comemorava no Brasil o dia do jornalista.

3 de abril de 2012

Lima Barreto pede passagem

Escrevi, para o Rascunho de abril, uma resenha sobre o livro de Luciana Hidalgo, "O Passeador", que traz como protagonista Afonso, uma espécie de versão low profile (?) do escritor carioca Lima Barreto. À sua época, o autor de "Triste Fim do Policardo Quaresma" parecia deslocado do mundo em que vivia, e o livro de Hidalgo, escritora e especialista na obra de Lima Barreto, soube trazer isso de forma bastante lúcida numa prosa bem elaborada.

Eis um trecho da resenha:

"(...) O livro de Luciana Hidalgo presta homenagem à altura ao escritor Lima Barreto, haja vista que a autora também se propõe a escrever de forma clara e lúcida, sem descuidar de certo apuro na forma. É bom que se diga: dos escritores brasileiros contemporâneos, incluindo aí alguns premiados, poucos conseguem manejar o texto em prosa de forma a um só tempo bem elaborada e com recurso de imaginação literária. Dito de outra maneira, embora o tema do livro em si seja bastante pertinente, é pela forma que a narrativa conquista o leitor".

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Em tempo: em abril, o Rascunho comemora 12 anos.